Àqueles que partem...
“Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de
edificar;
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Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de
dançar;
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Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de
abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
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Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de
lançar fora;
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Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de
falar;
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Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.”
(Ecl 3)
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Rezando esta
poesia bíblica é que afirmo, em Deus, que mais uma vez se faz necessário
acreditar que é tempo de mudança.
Mudar,
recomeçar, tentar, investir, se lançar... acreditar no recomeço.
Em
determinados e precisos momentos da nossa existência é preciso revestir-se de
maturidade e reconhecer que guinar faz bem e que insistir numa história por
simples luxo e satisfação pode nos prejudicar e aumentar os danos num futuro
breve.
Não. Não estou
tranqüilo. A mudança nunca vem só. Sempre está acompanhada de uma
imprevisibilidade tão humana e finitamente real.
Porém é
preciso tentar, arriscar, pôr à prova. Pois assim também é feito o tempo de
buscar.
A incerteza, o
medo, a angústia, a insatisfação, tornam este momento tão real que por vezes
desejaria distanciá-lo para que me sentisse mais seguro e pronto a enfrentá-lo.
Contudo, a certeza do recomeço, a segurança do afeto, a esperança e a
tranqüilidade da possibilidade, contrapõe e incentivam, a ponto de, a exemplo
da pedra que é jogada no rio sem saber qual é a sua profundidade, arriscar e
carregar o sentimento de que vale a pena.
Desistir? Não.
Não trago a sensação de que desisti e nem mesmo de que fui incapaz. Creio que
estou sendo laureado pela oportunidade de assumir, com pequenez, que o tempo
mudou e que minha existência impele por um novo momento imbuído de um novo
ambiente e de novos sentimentos.
Não vou me dar
por vencido e nem mesmo ter a atitude daquele que se acovarda. Só quero
insistir, só que agora de maneira diferente à que todos estavam acostumados a
presenciar.
Se um dia eu
saí de um lugar conhecido para galgar algo entre o caminho que me era
totalmente novo, hoje volto para o lugar onde os sentimentos são conhecidos. E
isso basta. É só disso que preciso agora. De forças para recomeçar. De motivos
para sentir-me mais feroz, mais fugaz, mais itinerante.
E repensar.
Fazer o exercício de trazer à mente o porquê das coisas e como devem ser
conduzidas.
Gratidão.
Prece. E o meu silêncio por aqueles que ficam e que por muito fizeram e farão
parte do tempo em que for preciso e bom que façam parte.
Entusiasmo.
Paciência. E fé para seguir a caminhada que, aparentemente, não termina agora.
E virá o tempo
em que olharei para trás e reconhecerei que valeu a pena ter me arriscado. E
que serei mais homem, mais humano, mais eu por ter feito o que meu coração pede
agora.
E quero
terminar rezando com uma das poesias e ensinamentos que mais tem me norteado
nos últimos tempos...
“É
graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça
das graças é não desistir nunca.” (H. Câmara)