Ele, rapaz franzino, magro, até
sem presença. Ela, traços fortes, cabelos longos, exótica e representante nata
daqueles que se diferenciam de seu tempo.
Naquela noite, fria de um final
de outono, me permiti observar como uma relação ensina. Não os vi chegar onde estávamos.
Quando me aproximei sem ser notado, eles já haviam estabelecido um acordo de
que um ensinaria ao outro a arte de se manter em cima de brinquedos que,
aparentemente, ambos não haviam, ainda, experimentado ao que o outro já era
demasiadamente experiente.
De longe, em cima de um par de patins
e apoiada ao poste que iluminava aquela parte da noite, a moça se punha a gritar as coordenadas para que o rapaz não
se desequilibrasse da bicicleta. E ele tentava. Subia. Duas ou três pedaladas
e... pronto! Já precisava recomeçar a erguer o brinquedo para que as tentativas
não cessassem. Ela não se aproximou tanto ao chão como seu parceiro porque, ora
o poste, ora a parede, ora outros obstáculos lhe serviam de apoio para que mais
do que patinar, andasse e não caísse.
Aquele pedaço de história me
levou longe. Levou-me a visitar, em pensamento, a história daquele jovem par. Bem,
quantas vezes a relação não se coloca à beira de desmoronar e aí por
experiência de uma das partes que grita em socorro dos próprios sujeitos e
resgata, corrige, lapida e dá sentido para continuar.
Sabe, às vezes nos colocamos à
espera de um príncipe ou uma princesa nascidos para nós. Sem defeito, sem
mácula, sem passado, sem experiência. E passamos a acreditar que somente
aceitaremos para nossa “felicidade” alguém que tenha saído do ventre de sua mãe
e esteja à nossa espera. Não desacredito a possibilidade. O que quero é
perceber o quanto uma relação pode nos ensinar quando menos esperamos que ela o
faça. O quanto podemos aprender com alguém que chegou em nossa vida cheio de
limitações e de imperfeições, mas que tem muito a nos ensinar. O verdadeiro
sentimento se permite reconstruir. Erguer-se. Levantar-se.
Naquela noite, fria de um final
de outono, eu aprendi que a segurança de outrem nos encoraja. Nos impulsiona. Nos
fricciona. O simples ato de recomeçar quando o jovem era impedido pela falta de
equilíbrio de continuar, revelava o quanto eles tinham de potencial para se
ajudarem nas curvas mais tortuosas da relação que estavam construindo.
Eu não fui percebido pelo casal. Antes
que isso acontecesse, voltei a caminhar, me afastei e pensei. Não os conheço e
não sei se foram capazes de descobrir a potência que eles são de uma história
de sucesso em ato.
Mas não podia guardar pra mim a
lição que havia recebido naquela noite fria de outono sabendo que, outros
tantos pares ainda não descobriram a capacidade que tem de reerguer o outro e a
si mesmo, numa história onde a experiência importa muito.
Texto muito bonito. Acredito que a lei da atração liga pessoas com algum objetivo em comum, buscar uma evolução a dois é algo muito bonito, e toda relação é um constante aprendizado, afinal convivência não é fácil, até para os mais apaixonados, mas quando um se propõem a ser um alicerce um do outro no intuito de aliviar essa jornada tão tumultuosa que é a vida, acho que esse é o verdadeiro amor.
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