domingo, 20 de outubro de 2013

Permita-se.


Já abracei para me sentir seguro, já abracei para proteger;
Abracei na chegada, abracei na despedida; já abracei.
Ofereci o abraço no pranto, e o reencontrei na alegria que chegou depois.
Senti o abraço e abracei sem ter sentido, surtei na falta dele.
Abraço de quem dá a vida, de quem cria, de quem ama.
Do pai, do amigo, do irmão, do distante, do desconhecido.
Quando senti a fereza da falta do abraço, dei valor à sua simplicidade.
 E na simples cidade, conheci o calor do abraço.
Doeu quando não pude abraçar, porque os braços já eram imóveis,
Determinei que não terminasse um dia sequer sem abraçar.
Sem protocolo, sem etiqueta, com vontade.
Com empatia, com alteridade, sem fraqueza.
O diploma não qualifica o abraço, a veracidade sim.
Permita-se quando outrem lhe abrir os braços,
E encerre, no abraço, a continuidade de uma existência.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Partilhando os primeiros passos nas artes cênicas.

Sem dúvida, o curso Básico de Teatro, me ajudou numa série de descobertas e percepções. Vou procurar enumerar algumas delas. Talvez a mais relevante tenha sido me perceber como ser de relação. Seja no trato com o outro, com as coisas ou com qualquer das possíveis formas de existência. Impossível acreditar numa existência singular em que sejam desconsideradas as formas de se relacionar, mesmo quando é preciso que se encontre alguma forma de “brincar” de maneira solitária, eu preciso do outro e dessa relação para descobrir aquilo que não me pertence quando estou só. A experiência do “estar só” e de ser em-si passa antes pela experiência da alteridade e da empatia para que se descubra sentido no movimento da singularidade. Depois, redescobrir em mim uma faceta infantil que estava adormecida e que muitas vezes exerce um papel de extrema importância no meio social incluindo-se o espaço profissional. Ter a oportunidade de não preocupar-se com o racional e o moralismo formal desencadeia uma pré-disposição para organizar os demais aspectos da vida pessoal de forma extremamente emergente. E ainda o quanto as coisas da vida passam despercebidas nos seus detalhes de acontecer. As propostas de imaginar o existente e representá-lo de forma precisa com o corpo me fez descobrir em mim um excelente investigador e observador das coisas corriqueiras da vida. O atender de um telefone; o movimento de quem segura um copo; a estratégia de quem abre uma porta; enfim, rotinas que antes não eram minuciosamente percebidas ganharam um espaço de atenção para mim. Além de considerar que as propostas do curso básico nos levam a relembrar as possibilidades do nosso corpo, assunto que ficou esquecido na infância e na adolescência; o quanto somos excelentes comunicadores; e que devemos assumir de maneira constate o nosso papel de forma lúdica, disponível e flexível.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Sobre o tempo...



             O tempo já não se arrasta mais, nem tampouco tem esperado aqueles que acreditam alcançá-lo de modo solene e sem ritmo. Por vezes se equivale a um carrasco levando o prisioneiro à morte, em rápido movimento, sem dó e nem um triz de piedade. Ou se faz como o automóvel que compete para chegar rapidamente ao pódio. Mas este tem com quem competir, diferente do tempo. Ou será que o próprio homem tornou-se o rival e competidor do senhor tempo? Nem se chega e já se faz hora de abraçar novamente sussurrando ao ouvido um até breve; nem se admira o que foi ganho para poder estender com a outra mão e oferecer ou simplesmente entregar; não se pode contemplar o que foi produzido e já é preciso repassar para que não perca importância; nem se alegra com o que foi colhido e o fruto já está em nova posse para que seja oferecido antes que pereça, antes que perca seu valor, antes que, antes que, antes...! O tempo nos tem feito, definitivamente, dependentes de seus marcadores. Se vão os livros, as histórias, os periódicos, as notícias sem nem sequer serem desfrutados por completo... assim também são consumidas a música e todo tipo de arte sem ao menos deixar a devida marca de cultura que nos é preciso. E nisso é que é preciso cuidar-se. Para que o tempo não nos carregue feito inocentes que não podem optar por aquilo que lhes é considerável, pelo que se tem gosto. O tempo precisa ser nosso aliado para que sejam feitas todas as coisas de modo devido e aceitável. E é preciso aliar o tempo à paciência. Ser paciente não é tornar-se um vagaroso vivente que espera imaginando saber para o que vigia, mas não percebe que o tempo lhe corrompe e lhe danifica. Ser paciente é sabiamente saber esperar sem perder o prumo para o chronos e aproveitando dele cada fragmento de tempo até que, aquilo que sabe que se espera, aconteça. Que o tempo nos permita conhecê-lo e que possamos aproveitá-lo tornando-nos seu parceiro, depositando nele nossa necessidade de existir com ele e ganhando dele as grandes lições que só o tempo pode nos dar! 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Me dê sua alegria!

Me dê sua alegria.
Não quero saber da sua mágoa ou do seu sofrimento;
Pago pelo seu sorriso, sua peripécia e sua habilidade.
Quero apenas seus quinze minutos de picadeiro e não me importarei mais com o porvir assim que desfizer sua maquiagem e colocar a roupa de dormir.

Quero prazer.
Quero sentir desconforto de tanto rir.
 Não quero pensar. Sou egoísta demasiadamente para isso.
Cores, piadas, brincadeiras e barulho... tudo para me fazer feliz nem que seja por um pequeno instante. É assim que quero desfrutar de sua ousadia e de seus trejeitos num espaço onde se torna tão esperado.

Mas...
E depois que meu egoísmo cessar, as luzes se acenderem e as cortinas da saída se abrirem?
E depois que a rotina ocupar novamente seu lugar e o riso espontâneo não mais acontecer?
Quando me der conta que um dia precisei que você professasse que era o responsável por me fazer conhecer a alegria e sua ausência?

Aí terei a certeza que dependo de você e da sua disponibilidade em me fazer feliz, nem que seja por um pequeno instante;
Que preciso de sua presença para conhecer a distância entre o riso e a lágrima,
E darei importância a algo que jamais havia me permitido refletir.

Enxergarei alguém que existe atrás desta maquiagem e deste excesso de fantasias,
E pensarei que você precisa andar mais que muita gente “importante” para que todos conheçam o que de fato é importante.

Me dê sua agonia, sua angustia e seu lamentar.
Entendo sua fraqueza quando não conseguir mais me fazer sorrir.
Compreendo sua humanidade e seu lado maduro de sofrer.
Agora sei que aí bate um coração que não é feito de aço,

É apenas o coração onde mora o sentimento de um palhaço...

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A vida. O movimento.

Passa a hora, passa o dia, passa o
Tempo.
A vida é feita de um constante
Movimento.





E nesse corre, nem sempre se vive
Um sentimento.
É preciso alerta pra não se perder
Um só momento!

Na cabeça um persistente
Pensamento:
Eu não aguento, Eu não aguento,
Eu não aguento.

Mas se a existência é um perfeito
Movimento,
Porque vivemos reféns desse
Tormento?

Uma pausa. A retomada
Um alento.
Agora é brisa o que outrora
Era vento!

Vem pra mim, vem pra perto,
Vem pra dentro.
Não vou fugir, tenho motivos e ao seu lado
É que me sento!

Feliz, fugaz e
Passageiro
Retomo e revivo
Meu sentimento.

A lição que aprendi.

Ele, rapaz franzino, magro, até sem presença. Ela, traços fortes, cabelos longos, exótica e representante nata daqueles que se diferenciam de seu tempo.

Naquela noite, fria de um final de outono, me permiti observar como uma relação ensina. Não os vi chegar onde estávamos. Quando me aproximei sem ser notado, eles já haviam estabelecido um acordo de que um ensinaria ao outro a arte de se manter em cima de brinquedos que, aparentemente, ambos não haviam, ainda, experimentado ao que o outro já era demasiadamente experiente.

De longe, em cima de um par de patins e apoiada ao poste que iluminava aquela parte da noite, a moça se punha  a gritar as coordenadas para que o rapaz não se desequilibrasse da bicicleta. E ele tentava. Subia. Duas ou três pedaladas e... pronto! Já precisava recomeçar a erguer o brinquedo para que as tentativas não cessassem. Ela não se aproximou tanto ao chão como seu parceiro porque, ora o poste, ora a parede, ora outros obstáculos lhe serviam de apoio para que mais do que patinar, andasse e não caísse.

Aquele pedaço de história me levou longe. Levou-me a visitar, em pensamento, a história daquele jovem par. Bem, quantas vezes a relação não se coloca à beira de desmoronar e aí por experiência de uma das partes que grita em socorro dos próprios sujeitos e resgata, corrige, lapida e dá sentido para continuar.

Sabe, às vezes nos colocamos à espera de um príncipe ou uma princesa nascidos para nós. Sem defeito, sem mácula, sem passado, sem experiência. E passamos a acreditar que somente aceitaremos para nossa “felicidade” alguém que tenha saído do ventre de sua mãe e esteja à nossa espera. Não desacredito a possibilidade. O que quero é perceber o quanto uma relação pode nos ensinar quando menos esperamos que ela o faça. O quanto podemos aprender com alguém que chegou em nossa vida cheio de limitações e de imperfeições, mas que tem muito a nos ensinar. O verdadeiro sentimento se permite reconstruir. Erguer-se. Levantar-se.

Naquela noite, fria de um final de outono, eu aprendi que a segurança de outrem nos encoraja. Nos impulsiona. Nos fricciona. O simples ato de recomeçar quando o jovem era impedido pela falta de equilíbrio de continuar, revelava o quanto eles tinham de potencial para se ajudarem nas curvas mais tortuosas da relação que estavam construindo.

Eu não fui percebido pelo casal. Antes que isso acontecesse, voltei a caminhar, me afastei e pensei. Não os conheço e não sei se foram capazes de descobrir a potência que eles são de uma história de sucesso em ato.


Mas não podia guardar pra mim a lição que havia recebido naquela noite fria de outono sabendo que, outros tantos pares ainda não descobriram a capacidade que tem de reerguer o outro e a si mesmo, numa história onde a experiência importa muito.

sábado, 6 de julho de 2013

É chegado o tempo...

Àqueles que partem...


“Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.” (Ecl 3)

Rezando esta poesia bíblica é que afirmo, em Deus, que mais uma vez se faz necessário acreditar que é tempo de mudança.
Mudar, recomeçar, tentar, investir, se lançar... acreditar no recomeço.
Em determinados e precisos momentos da nossa existência é preciso revestir-se de maturidade e reconhecer que guinar faz bem e que insistir numa história por simples luxo e satisfação pode nos prejudicar e aumentar os danos num futuro breve.
Não. Não estou tranqüilo. A mudança nunca vem só. Sempre está acompanhada de uma imprevisibilidade tão humana e finitamente real.
Porém é preciso tentar, arriscar, pôr à prova. Pois assim também é feito o tempo de buscar.
A incerteza, o medo, a angústia, a insatisfação, tornam este momento tão real que por vezes desejaria distanciá-lo para que me sentisse mais seguro e pronto a enfrentá-lo. Contudo, a certeza do recomeço, a segurança do afeto, a esperança e a tranqüilidade da possibilidade, contrapõe e incentivam, a ponto de, a exemplo da pedra que é jogada no rio sem saber qual é a sua profundidade, arriscar e carregar o sentimento de que vale a pena.
Desistir? Não. Não trago a sensação de que desisti e nem mesmo de que fui incapaz. Creio que estou sendo laureado pela oportunidade de assumir, com pequenez, que o tempo mudou e que minha existência impele por um novo momento imbuído de um novo ambiente e de novos sentimentos.
Não vou me dar por vencido e nem mesmo ter a atitude daquele que se acovarda. Só quero insistir, só que agora de maneira diferente à que todos estavam acostumados a presenciar.
Se um dia eu saí de um lugar conhecido para galgar algo entre o caminho que me era totalmente novo, hoje volto para o lugar onde os sentimentos são conhecidos. E isso basta. É só disso que preciso agora. De forças para recomeçar. De motivos para sentir-me mais feroz, mais fugaz, mais itinerante.
E repensar. Fazer o exercício de trazer à mente o porquê das coisas e como devem ser conduzidas.
Gratidão. Prece. E o meu silêncio por aqueles que ficam e que por muito fizeram e farão parte do tempo em que for preciso e bom que façam parte.
Entusiasmo. Paciência. E fé para seguir a caminhada que, aparentemente, não termina agora.
E virá o tempo em que olharei para trás e reconhecerei que valeu a pena ter me arriscado. E que serei mais homem, mais humano, mais eu por ter feito o que meu coração pede agora.
E quero terminar rezando com uma das poesias e ensinamentos que mais tem me norteado nos últimos tempos...


“É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca.” (H. Câmara)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Um boêmio a falar de amor!



Os últimos dias me deixaram espaçosamente ocupado que me demorei a voltar à casa azul... Pois bem, cá estou para retomar as memórias e os pensamentos de um ser que não se consegue conter!
Acabo de voltar de um talentoso espetáculo de teatro.

Em Cartaz:


Hoje me fizeram re-pensar, pensar, calcular o sentimento de expelir e receber cuidado, afeto, carinho e atenção. Para muitos, todas as coisas na vida tem o seu momento de dizer “chega”, “acabou”, “paramos por aqui”... Porém ainda existem aqueles que acreditam no perfume infindável da bela rosa; no sentimento que se reconstrói todos os dias quando somos acordados pelo grande astro a nos lembrar que mais um capítulo se inicia e que esta história, por mais aparente que seja seu término, não tem o direito de adiantá-lo ao fim que nos é certo. Todos, certamente, e nunca alguém fez para provar-nos diferente, viveremos o nosso dia que será o último de todos os outros outrora vividos. E então, para que nos servirmos de adiantar os términos, podar as alegrias e mudar o rumo de um córrego que tem tudo para desaguar numa cachoeira de prazer e de realização. Este espetáculo me fez repensar os minutos que seguirão até o último que me será concedido pelo autor da vida para que nenhum deles seja desperdiçado nos nuances da vida. Se uma história deve ter um início para existir, não, ela não precisa ter um fim para se chamar história. Pelo menos não um fim em que nós mesmos sejamos os autores deste fim e que passemos o resto de nossos dias nos culpando por ter cerrado as possibilidades de uma vida que poderia suspirar.
Talvez muitos não entendam o artigo que me sai hoje. Não entendam até que tenham a oportunidade de viver um amor verdadeiro. Até que o sentimento mais puro e verdadeiro entre dois seres lhe bata à porta e lhe peça um pouco de estadia. Até que a sensação de ver alguém que lhe faz bem permanecer ao se lado e não ter a gana de que esse momento se acabe ou que essa pessoa se afaste. Ou, ao menos, que tenha a mesma oportunidade de assistir ao espetáculo “MANHÔ, do Grupo DOMO de teatro (Brasília/DF).
Amar, sem que a pressa nos proíba ou intervenha sobre esse sentimento querendo nos desfazer de verdadeiros e natos amantes.
“Todos viveremos o dia que será o nosso último dia” e até que ele chegue nos permitamos o amor!

O link abaixo abre o vídeo da canção Samba e Amor, na voz de Bebel Gilberto.


terça-feira, 23 de abril de 2013

Um ciclo que se encerra....


Vivo os últimos dias dos meus vinte e cinco anos. E os tenho vivido no paradoxo de um espírito de gratidão, de ternura e de ansiedade. Ao remeter o olhar e a lembrança para as últimas trezentas e sessenta manhãs que se ascenderam, só me resta o gesto de agradecer. Ao Criador Supremo, àqueles que caminharam comigo e aos tantos que por variados motivos se afastaram. Tempo de colher os frutos do que foi plantado. Vejo germinar nestes dias a colheita da boa semente que joguei. E para o que não realizou-se conforme desejado e quisto, reflito ternura. Sentimento que nos faz acolher de maneira tranquila os resultados não tão bem sucedidos e que nos aponta, para além desta colheita, um campo verde, terra afagada e cheia de vida e de vontade para o que há de vir. Conquistas, perdas, encontros e desencontros! Ansiedade. O que é novo e que me espera como um desbravador se torna impulso de ansiedade. No entanto, que venha! Eis-me um tanto mais crescido, mais maduro e mais disposto. Estes belos dias em que encerro o ciclo de um quarto de século vivido, celebro o orgulho de olhar ao redor e perceber que nada ainda está construído, porém que os alicerces estão assentados. Este ano em palavras? Audácia, coragem, confiança e persistência. Frutos? Identidade, satisfação e realização. Me incomodaria terminar este artigo sem encontrar, na palavra que inspira, algo que palavreasse o ano que encerro. Com o salmista quero rezar "A nossa alma escapou, como um pássaro do laço que lhe armara o caçador!" (Sl. 124).
Obrigado. Assim seja.

sábado, 13 de abril de 2013

Instante.


Aquilo que não me transcende o divino,
Que não me dá a continuidade do prazer,
Talvez o que limita o meu sonhar...

Garante um prazer inenarrável,
Decide uma história e o seu fim,
Permite iludir-se com aquilo que não pode ser.

É uma vida,
Um impacto,
Um tempo a se medir.

E se num fogo for provado,
Com certeza não cederá,
Pois é dele que a alma vive e faz valer o viver!